Por Elton Alisson | Agência FAPESP –
A cidade de Sorocaba (a cerca de 100 quilômetros de São Paulo) vem atraindo, nos últimos anos, empresas como a Toyota, que inaugurou em 2012 sua terceira fábrica no país e trouxe, a reboque, 13 fornecedoras de componentes e de serviços automotivos (sistemistas) ao município paulista.
Segundo Erly Domingues de Syllos, diretor de tecnologia e inovação do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) e presidente do conselho de administração da Agência de Desenvolvimento e Inovação de Sorocaba (Inova Sorocaba), um dos fatores que contribuíram para a cidade do interior paulista entrar no radar de investimentos da montadora japonesa e de outras empresas é o fato de possuir um parque tecnológico.
“Além da Toyota, diversas outras empresas, de diferentes setores, como a Embraer Manutenção, a fabricante de tratores JCB e a de pás eólicas Tecsis, instalaram fábricas na cidade por conta da existência do parque tecnológico”, disse Syllos, durante palestra no seminário “Investe SP e Parques Tecnológicos – Inovação acelerando o desenvolvimento”, realizado na terça-feira (27/10), na sede da Agência Paulista de Promoção de Investimentos e Competividade (Investe em SP), na capital paulista.
Promovido pela Investe SP, o objetivo do evento foi reunir representantes do governo, associações, empresários e especialistas para definir estratégias de desenvolvimento do Estado de São Paulo por meio dos parques tecnológicos.
Ambiente de inovação que abriga, em um mesmo espaço, empresas de base tecnológica de um ou mais setores, além de universidades e instituições de pesquisa, os parques tecnológicos vêm aumentando em número no Brasil e no mundo em razão dos impactos econômicos positivos para as cidades e o país onde estão sediados, destacaram especialistas no evento.
“Os parques tecnológicos alavancam os recursos públicos iniciais alocados na construção desses empreendimentos ao gerar investimentos das empresas em centros de pesquisa e desenvolvimento, empregos qualificados e dinamizar a economia”, disse Guilherme Ary Plonski, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da Universidade de São Paulo (USP).
O Porto Digital, por exemplo, – um polo de desenvolvimento de softwares e de economia criativa situado em Recife, que iniciou suas atividades com um investimento de R$ 33 milhões derivados da privatização de uma empresa do Estado de Pernambuco –, gerou ao longo de seus 15 anos de existência 7,5 mil empregos e as empresas sediadas no complexo faturam atualmente R$ 1 bilhão por ano.
Já as 40 empresas instaladas no parque tecnológico da University of Arizona, nos Estados Unidos, criado pela universidade americana em 1994 em um terreno na região de Pima até então usado pela IBM, geram um faturamento de US$ 2,3 bilhões por ano e foram responsáveis pela criação de 6,5 mil postos de trabalho, com salário equivalente ao dobro da média do estado americano, exemplificou Plonski.
“As empresas precisam de ambientes de inovação para alavancar a competividade mediante a cooperação com outras empresas, além de universidades e institutos de pesquisa. E um desses ambientes de inovação é um parque tecnológico”, afirmou o especialista, que é conselheiro da International Association of Science Parks and Areas of Innovation (IASP).
De acordo com Plonski, os primeiros parques tecnológicos – chamados de primeira geração – foram criados especialmente nos Estados Unidos, entre as décadas de 1950 e 1960, por diferentes razões.
O Stanford Research Park, por exemplo, considerado o primeiro parque tecnológico do mundo, foi construído em 1951 a partir de uma decisão da Stanford University.
A instituição passava por uma crise financeira e decidiu dar um uso econômico para alguns terrenos que a família Stanford deixou em testamento para usufruto da universidade.
“A reitoria da universidade começou a permitir, na época, que empresas fossem instaladas naqueles terrenos e percebeu que um conjunto importante dessas empresas era oriunda de San Francisco e intensivas em conhecimento”, disse Plonski.
Já em 1959 foi construído o Research Triangle Park, na Carolina do Norte, por iniciativa do governo do estado, situado no sul dos Estados Unidos.
Antevendo que os três setores básicos da economia da Carolina do Norte na época – o fumageiro, o moveleiro e o têxtil – poderiam enfrentar crises econômicas em curto e médio prazo, o governo começou a estudar medidas para diversificar a economia do estado.
Para isso, viu que poderia contar com o apoio de três universidades existentes no estado americano – a Duke University, a North Carolina State University e a University of North Carolina at Chapel Hill –, localizadas a uma distância de cerca de 20 minutos uma da outra, que formam o “triângulo da pesquisa”, como a região é conhecida.
“Hoje há 200 empresas instaladas no parque, que geram 50 mil postos de trabalho, boa parte qualificados”, disse Plonski.
Iniciativas no Brasil
No Brasil, segundo o professor, as primeiras propostas de criação de parques tecnológicos começaram a surgir no final da década de 1980 e ganharam maior força a partir de 2000, quando foram construídos os primeiros empreendimentos do gênero no país.
Atualmente, há 94 iniciativas de parques tecnológicos, das quais 24 estão em operação, disse Plonski.
“Há uma grande concentração de parques tecnológicos nas regiões Sul e Sudeste do país, mas também há outros importantes fora dessas áreas”, afirmou.
No Estado de São Paulo existem hoje 28 iniciativas para implantação desses empreendimentos, sendo o Parque Tecnológico de São José dos Campos o primeiro a receber o status definitivo no Sistema Paulista de Parques Tecnológicos (SPTec).
Desde então, outros cinco também receberam este título: Parque Tecnológico de Sorocaba, Parque Tecnológico de Ribeirão Preto, Parque Tecnológico de Piracicaba, Parque Tecnológico de Santos e Parque Tecnológico de São Carlos (ParqTec).
Hoje há 14 iniciativas com credenciamento provisório: Araçatuba, Barretos, Botucatu, Campinas (com cinco iniciativas: Polo de Pesquisa e Inovação da Unicamp, CPqD, CTI-TEC, Ciatec II e Techno Park), Parque Universidade Vale do Paraíba (Univap), Santo André, São Carlos EcoTecnológico, São José do Rio Preto e São Paulo (duas iniciativas: Jaguaré e Zona Leste).
“A grande maioria desses investimentos está situada no eixo Bandeirantes¬– ¬Anhaguera”, disse Juan Quirós, presidente da Investe SP, que gerencia os parques tecnológicos existentes no Estado de São Paulo.
“Temos que levar esses investimentos para outras regiões do Estado, de modo que não fiquem concentrados apenas nas regiões metropolitanas”, disse Quirós durante o evento.
O encontro teve a participação de Sérgio Queiroz e Douglas Eduardo Zampieri, membros da coordenação da área de Pesquisa e Inovação da FAPESP, que falaram sobre os mecanismos que a Fundação disponibiliza para apoiar a pesquisa para a inovação no Estado de São Paulo, tais como os programas Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) e de Apoio à Pesquisa em Parceria para a Inovação Tecnológica (PITE).